A falha cometida pelo tucano José Serra, na ocasião candidato à presidência do Brasil. Em campanha, Serra afirmou “eu nunca disse que sou contra o aborto, até porque sou a favor”, querendo dizer exatamente o contrário. Segundo o político, a ocasião não passou de um mal-entendido.
O episódio em que a jornalista Ana Paula Padrão, apresentadora do Jornal da Record disse ao vivo da cerimônia de abertura dos jogos olímpicos de Londres: “você está assistindo o Jornal da Globo”. Para muitos isso tudo não passou de uma confusão de palavras.
Falar com calma, organizar ideias, e prestar atenção no que se diz podem ser alternativas eficazes na elaboração de um discurso coerente. O que não se pode esquecer é que todos estão sujeitos a cometer falhas ou deslizes na hora de se expressar. Coincidência? Talvez. Confusão? Não se sabe. Isso tudo pode ser uma boa peça pregada pelo inconsciente. Em meio a tantos pensadores e cientistas.
Os atos falhos, não são somente o conjunto das falhas das palavras (trocou um nome de pessoa, leu errado), falhas da memória e da ação (esqueceu algo, tropeçou, esbarrou em algo), mas também para as ações que, habitualmente, o sujeito consegue realizar bem, e cujo fracasso ele tende a atribuir apenas à sua distração ou ao acaso, mas em verdade, tem origem no recalcado.
Por que será que sempre quando estamos sob pressão, estressados, ou, até mesmo, distraídos, temos a estranha tendência em trocar o nome das coisas, falar o que não devemos, ou dizer o exato oposto do que pensamos em falar? Há quem diga que tudo não passa de uma confusão das ideias, outros afirmam que há um motivo por trás do erro. Quanto ao conceito principal, Freud explica.
Ato falho é um conceito desenvolvido por Freud no ano de 1901 em seus estudos sobre o inconsciente. É um erro na fala, na escrita, na memória ou em qualquer atuação física e expressional provocada hipoteticamente pelo inconsciente. Segundo a psicologia freudiana, é por meio do ato falho que se realiza o desejo do inconsciente, ou seja, você fala “sem querer querendo”.
Trata-se de um ato em que o resultado explicitamente visado pelo campo consciente, pelo ego, não é atingido, mas se vê substituído por outro que se infiltra, oriundo do inconsciente, tendo na sua origem um conteúdo recalcado ou reprimido e que ocorre a partir de uma distração, uma falta de foco do ego naquele dado momento.
Freud demonstrou que os atos falhos eram, assim como os sintomas, formações de compromisso entre a intenção consciente do sujeito (do ego) e do id (desejo recalcado).
Desse modo, nenhum gesto, pensamento ou palavra acontece acidentalmente.
Os atos falhos diferem do erro comum, pois este é resultado da ignorância ou conveniência. O fenômeno abrange também distração, falhas na leitura e audição equivocada.
A neurociência considera esse deslize um esquecimento corriqueiro sem nenhum significado especial. Ele acontece porque, ao contrário de uma filmadora, o cérebro não grava todos os mínimos detalhes dos acontecimentos, mas apenas as informações principais.
Quando ativamos nosso banco de dados para buscar a situação completa, ele monta esses dados como se editasse um filme. E, para ligar uma coisa à outra, preenche as lacunas com algumas invenções. É exatamente nesse momento que surgem as confusões, que, se pegarem mal, serão consideradas atos falhos.
A contragosto dos psicanalistas, seriam simples e pequenos “tilts” na memória sem nenhuma razão oculta.
A abordagem sobre o tema se volta à seguinte prerrogativa: quais são as implicações do ato falho na vida cotidiana? Até que ponto o ato falho pode ser prejudicial nas relações sociais?