O livro Quando Nietzsche chorou traz um paralelo entre ficção e realidade, mostrando o nascimento da psicanálise de forma espetacular, com personagens reais.
Ao contrário do que você possa imaginar, o livro é narrado pela perspectiva de Josef Breuer, não de Nietzsche, com uma vantagem, a narração é feita em 3ª pessoa, o que garante certa imparcialidade. O livro tem 22 Capítulos, mas com pausas distribuídas entre eles, que nos dá espaço ou para descansar ou para pensar a respeito da história.
Quando Nietzsche Chorou foi seu primeiro romance e curiosamente quem deu o título a seu livro foi sua esposa Marilyn. Neste livro Yalom narra o nascimento fictício da psicanálise. O Doutor Josef Breuer é chamado por Lou Salomé para tratar de seu amigo atormentado Friedrich Nietzsche.
Pelas ruas, cemitérios e casas de chá da Viena do sec. XIX, estes dois gigantes do seu tempo vão conhecer-se um ao outro e, fundamentalmente, conhecer-se a si próprios.
Primeiro o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, que no livro está à beira do desespero por sua enxaqueca intermitente, que o aflige ao ponto de incapacitá-lo, e a dor de um amor não correspondido.
Foi encarregado, pela bela Lou Salomé, de curar o desespero do amigo Nietzsche. Breuer também está às voltas com seus problemas interiores, como o desejo que sente por uma de suas pacientes, Anna O.
Um jovem médico interno de hospital chamado Sigmund Freud, futuramente também conhecido como um dos pais da psicanálise.
O caso mais famoso de Breuer. Com ela o médico deu início a um novo método de tratamento, a terapia da conversa. Bertha sofria de depressão e histeria, e seu tratamento desencadeou a revolução psicanalítica, por Breuer e Freud. Futuramente, após anos de tratamento, virou uma exemplar assistente social, recebendo inclusive homenagem póstuma.
Enfim chegamos a razão de um dos desesperos, e razão da amizade narrada no livro, de Nietzsche, Lou Salomé, sua discípula. O motivo para tanto desespero foi se apaixonar pela encantadora discípula, pedindo-a em casamento, e ela negando. Ainda corroborando para a trágica relação de amor e ódio, as interferências de Elizabeth, irmã de Nietzsche, geraram grandes dificuldades para o filósofo. Lou Salomé seguiu uma carreira brilhante como literata e psicanalista. Nietzsche por anos nutriu mágoa por esse amor perdido e pelo sentimento de traição.
No livro, após muita insistência e perspicácia, Nietzsche aceita ser tratado de sua enxaqueca pelo médico Josef Breuer, que por trás tem um plano para tentar livrá-lo da dor da rejeição e sentimento iminente de suicídio. Para isso, torna-se também paciente do filósofo, tendo sessões de filosofia com ele, para tentar resolver seus pensamentos com Anna O. O livro então nos apresenta cada sessão, as impressões que cada um deles teve do outro, vemos a amizade brotar em cada um e uma entrega emocionada no final.
O livro destaca o sofrimento existencial que existe em todos nós, nos brinda com excertos de cartas verdadeiras como a que o compositor Wagner escreveu para Nietzsche. O conteúdo, a estrutura, os sentimentos que desperta no leitor são magistrais. É mágico poder se envolver nos primórdios da psicanálise com personagens tão carismáticos e envolventes. Quando o livro termina nos deixa uma sensação de vazio, saudades eu diria.
Ao longo do livro levantam-se questões éticas do relacionamento médico-paciente e podemos também compreender como se deu os pensamentos iniciais de Freud para desenvolver a psicologia e sua teoria do subconsciente. Tudo isso é muito bem amarrado em meio a histórias e acontecimentos reais, como as personagens de Lou e Anna, que realmente existiram, as doenças físicas (e quem sabe psíquicas) de Nietzsche e o relacionamento de Breuer com Freud.